Sou daquelas que ainda mandam cartas. Cartas de amor, de amizade, de felicitações. Cartas que expressem sentimentos, sejam eles de alegria ou tristeza, que exprimam emoções, que falem da alma. Aquelas em que as frases não apenas contêm palavras, mas todo o sentimento que a pessoa quer transmitir.
Eu, particularmente, gosto muito de escrever e o faço com prazer. Escrevo para os amigos, para quem eu gosto e sinto vontade. Adoro guardar com palavras o meu sentimento naquele momento. Sim, também me agrada recebê-las. Não só me encanta o texto como também a letra, a cor, o formato, o papel. Gosto de poder tê-las em mãos, para poder recorrer a elas sempre que me der vontade.
Finalizo meu texto com uma poesia que amo e que fala delas, das cartas!
- "Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)"
Álvaro de Campos, 21-10-1935